terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Lesões do membro inferior no ciclismo ( Monografia)

Resumo

O objectivo deste estudo foi verificar quais as lesões mais frequentes do membro inferior no ciclismo profissional de estrada e qual a sua etiologia.
Um grupo de 53 ciclistas profissionais (idade média de 28 anos, altura de 1,74 metros e peso médio de 68 Kg) foi submetido a várias avaliações. Inicialmente os atletas foram sujeitos a um questionário de cariz sócio-demografico. Após esta avaliação os atletas foram sujeitos a uma observação para a recolha de dados necessários.
Para tratar dos dados estatísticos o programa utilizado foi o SPSS versão 16.0, e como procedimentos estatísticos procedeu-se à análise de frequências, teste de normalidade e Qui-quadrado para amostras independentes (X2).
Os resultados demonstraram que a média de idades dos atletas que apresentaram lesões foi superior á média de idades dos atletas que não apresentaram lesões. Verificou-se também que os que apresentaram lesões tinham uma média superior de anos de prática desportiva, comparativamente aos que não apresentaram lesões. Os resultados demonstraram que quanto maior era o numero de horas de treino maior era a percentagem de lesão. Em relação á cadência utilizada, verificou-se que quanto mais pesada era a cadência maior era a percentagem de lesões. Os atletas com dismetria apresentaram lesão lombalgica, enquanto que os que não tem dismetria não apresentaram este tipo de lesão. Verificou-se igualmente que existe uma maior percentagem de lesão do joelho naqueles atletas que tem um genu varo. Em suma, os profissionais desta modalidade, hoje em dia, estão bem informados das condutas que devem ter para em primeiro lugar não contraírem lesões e, por outro, obterem cada vez mais um melhor rendimento desportivo. Também se verificou que, contrariamente ao que se pensava, a principal causa de lesão não são os métodos inadequados de treino mas sim os mecanismos fisiológicos e anatómicos de cada atleta.
Palavras-chave: CICLISMO, MEMBRO INFERIOR, LESÕES, DESPORTO, PODOLOGIA


Introdução

O trabalho de investigação é realizado no âmbito da disciplina de investigação Fase Empírica da Licenciatura em Podologia, da Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa (ESSVS).
A escolha deste tema prende-se com uma motivação pessoal relativamente á modalidade, e também ao facto de ser uma área na qual os membros inferiores assumem uma importância fundamental para a sua execução técnica e, como tal, ficarem expostos a um grande número de lesões. Foi então efectuada uma pesquisa de modo a aprofundar alguns conhecimentos acerca da biomecânica do membro inferior do ciclista e das lesões mais frequentemente descritas na literatura, seguida na respectiva fundamentação teórica.
Este estudo será elaborado tendo em conta o conceito e os respectivos objectivos a atingir e seguindo todas as directrizes e normas exigidas num trabalho de investigação, ou seja uma metodologia adequada ao estudo em causa, materiais e procedimentos de estudo apropriados, amostra previamente seleccionada e análise estatística completa e cuidadosa.
Desde a antiguidade, o Homem procurou meios para melhorar a sua permanência e transporte no planeta. Dentro das várias invenções que procuraram facilitar o seu deslocamento, a bicicleta apresenta inúmeras vantagens sobre os restantes meios de transporte e, assim como estes, evoluiu e adaptou-se às novas realidades. O principal medo entre os ciclistas é sem dúvida a ocorrência de lesões. Provavelmente a lesão causa mais medo que a própria derrota. Isso acontece porque uma derrota pode ser ultrapassada com uma vitória subsequente, já uma lesão, além de impossibilitar em muitos casos a continuação da actividade, tem consequências psicológicas, que muitas vezes vão interferir no bom desempenho do atleta (Baker, 1998).
O ciclismo é, entre todos os desportos, um dos que menos causa lesões. Uma das razões é por não ser um desporto onde exista contacto entre atletas, o que reduz bastante a probabilidade de aparecimento de lesões. No entanto, é um desporto que não está imune a elas (Chow TK, Kronisch, 2002).


As causas para o aparecimento de lesões no ciclismo podem ser diversas e estão muitas vezes relacionadas com factores como uma técnica de pedalada deficiente, excesso de treino, uso de desmultiplicações pesadas demais combinadas com cadências baixas, dimensões incorrectas da bicicleta, aquecimento insuficiente, alterações abruptas tanto no volume quanto na intensidade de treino e falta de força e flexibilidade (Baker, 1998).
Ao longo dos tempos o ciclismo evoluiu bastante, e hoje em dia, é considerado um desporto de alta competição. É nessa vertente que o presente trabalho se vai direccionar, nomeadamente no ciclismo de competição em estrada.
O principal objectivo do estudo consiste em analisar a frequência de lesões no ciclismo. Como objectivos secundários pretende-se verificar quais os tipos de lesões mais frequentes neste desporto, qual a sua etiologia e qual a morfologia do membro inferior do ciclista. Pretende-se ainda verificar a possível relação de algumas variáveis com a ocorrência das referidas lesões ou deformidades, tais como, a idade dos ciclistas, anos de prática, número e horas de treino, tipo de treino, alterações morfológicas ou funcionais do membro inferior.
Para tal, o estudo será levado a cabo em ciclistas profissionais portugueses ou que pratiquem a modalidade em Portugal.
Com este trabalho pretendo contribuir, de alguma forma, para um maior e melhor conhecimento das patologias mais frequentes no membro inferior dos ciclistas, da biomecânica e dos gestos técnicos associados ou desencadeantes e do papel do podologista como elemento da equipa multidisciplinar, nomeadamente a sua possível intervenção na tríade pé – sapatilha – pedal (superfície de apoio).
Para um melhor compreensão, o trabalho encontra-se estruturado em seis capítulos. O primeiro diz respeito à fundamentação teórica, onde serão abordados a bicicleta, a biomecânica do ciclismo e as lesões no ciclismo. No segundo capítulo encontra-se a metodologia, na qual se referem os meios, materiais e métodos que foram utilizados. No terceiro capítulo apresentam-se os resultados obtidos, em função dos objectivos propostos. O quarto capítulo é a discussão dos resultados, ou seja a confrontação dos resultados obtidos com os dados existentes na literatura, que permite chegar às conclusões do estudo, apresentadas no quinto capítulo. Por fim é apresentada a bibliografia que serviu de apoio à concretização do presente.



1 Revisão de Literatura

1.1 História

Nas antigas civilizações do Egipto, China e Índia aparecem os testemunhos mais antigos sobre os antecedentes deste veículo: a bicicleta. Mas pode-se assinalar como seu antecessor directo, o celerifero, que era uma estrutura de duas rodas de madeira unidas por uma barra de um metro de largo, e que se deslocava pelo impulso dos pés no solo. Foi inventada por um francês De Sivrac, e apresentada em Versalhes no ano de 1790 (Alderson, 1972).
A configuração básica e a forma de uma bicicleta comum foram alteradas muito pouco desde que o primeiro modelo, conduzido por correntes, foi desenvolvido em 1885. Entretanto, alguns detalhes foram melhorados com o constante uso do computador e melhoria na tecnologia do material. O uso de tecnologias modernas tornou possíveis projectos especializados do produto para tipos e usos diferentes da bicicleta (Alderson, 1972).
A bicicleta, que deu origem ao ciclismo nas épocas modernas, apareceu na Alemanha em 1817, com o intuito de ser um veículo que pudesse percorrer pequenas distâncias sendo rápido e barato, sofreu uma grande evolução, sendo hoje um equipamento bastante moderno, podendo ser construído por uma série de materiais diferentes; e nos dias de hoje existem no mundo mais de 800 milhões, o dobro da quantidade de automóveis. A primeira bicicleta de 1817 foi designada de " máquina de correr" e "Cavalo de diversão". Desde o seu aparecimento, se considera não só como um meio de transporte, mas também como um excelente equipamento para avaliar, manter ou melhorar a forma física (Alderson, 1972).
A primeira bicicleta de pedais foi inventada por um escocês, Kirkpatrick Macmillan, em 1839. Em 1989, Kelly e Fisher construíram a primeira bicicleta de montanha (Alderson, 1972).
Foi em Inglaterra, em meados do século XIX, que o ciclismo se iniciou como desporto, época em que o aperfeiçoamento do veículo possibilitou o alcance de maiores velocidades. O ciclismo é regido por diversas regras. Geralmente enquadra-se em quatro categorias: provas em estradas, provas em pistas, provas de montanha (Mountain Bike) e BMX e é praticado com diversos tipos e modelos de bicicletas (Alderson, 1972).

1.2 Principais constituintes de uma bicicleta

As bicicletas são compostas por diversas partes, nomeadamente rodas, quadro, assento, direcção e travões (Burke, Pruitt, 2003).
As rodas são a parte mais importante de qualquer veículo. As primeiras rodas usaram um aro de madeira com um eixo de aço, os raios feitos de madeira e um pneu de ferro na parte externa. As rodas usadas hoje em dia têm um aro de metal, raios metálicos, uma borda de metal para prender os raios e um pneu de borracha pneumático na parte externa. Outra parte importante das rodas são os rolamentos, que permitem a livre circulação do aro no eixo (Burke, Pruitt, 2003).
Relativamente ao quadro, a maioria das bicicletas usadas actualmente têm o quadro em forma de diamante. Este é composto de dois triângulos, o da parte dianteira e o da parte traseira. O triângulo dianteiro tem o tubo superior, o tubo principal, o tubo do assento e o tubo de baixo. O tubo principal conecta ao assento, e o tubo de baixo conecta com o tubo principal e com o suporte principal da parte inferior. O triângulo traseiro tem o tubo do assento e a corrente (Burke, Pruitt, 2003).
Os travões usados em bicicletas modernas são travões que usam almofadas para comprimir a roda dos dois lados. Também podem ser de disco. O travar nas bicicletas é manual, pressionando as alavancas de travão instaladas em cada lado do guiador (Burke, Pruitt, 2003).

1.3 Biomecânica no ciclismo

O ciclismo tem-se desenvolvido notavelmente nas últimas décadas. No âmbito desportivo de alto rendimento, questões como a posição tomada pelo atleta na bicicleta, até acessórios como pedais, travões, assentos, pneus, entre outros, têm intrigado pesquisadores e forçado a que se tenha tentado encontrar soluções para as perguntas acerca das respostas fisiológicas e mecânicas para as alterações na carga de trabalho e/ou na produção de energia, bem como dos defeitos da posição do corpo e configuração do quadro no desempenho do atleta (Gregor, 2000).
A discussão sobre os modelos biomecânicos para a extremidade inferior durante a prática do ciclismo, geralmente, enfoca o movimento rítmico das pernas, operando numa escala óptima de movimento projectada para produzir o máximo de benefício, partindo das propriedades mecânicas dos músculos envolvidos, como por exemplo, músculos esqueléticos nas extremidades inferiores utilizados para dar potencia á bicicleta (Gregor, 2000).
A grande parte das pesquisas em biomecânica considera apenas movimentos no plano sagital, de flexão e extensão do joelho e de flexão plantar e dorsal do tornozelo. A partir dessas análises, os deslocamentos, velocidades e acelerações da coxa, perna e pé, parecem ser mais afectadas pela cadência e pela configuração da bicicleta, como por exemplo, a altura do assento, posição para a frente ou para trás do assento, comprimento do pé e a sua posição sobre o pedal. Em relação á extremidade superior do corpo, a inclinação do tronco parece ter pouco efeito sobre a cinemática dos membros inferiores (Gregor, 2000).
Analisando a pedalada no plano sagital, Faria e Cavanagh (1978) descreveram um deslocamento angular total, durante um ciclo da pedalada d e 45º para a coxa, 75º para o joelho e de 20º para o tornozelo. Já Rugg e Gregor (1987), demonstraram o efeito das alterações da altura do assento sobre a escala de movimento da anca e do joelho, à medida que é variada a altura de 100% para 115% da altura da cintura pélvica (a altura é medida a partir da sínfise púbica até ao solo).
Com base nesses dados, muitos ciclistas de estrada escolhem entre 106 a 109% da altura da sínfise púbica como uma posição de assento de maior conforto. A descoberta dos autores ainda salienta que a articulação do joelho foi a mais afectada pelas alterações na altura do assento, sendo as outras articulações analisadas (anca e tornozelo) menos afectadas. Além disso, parece que o joelho se flexiona com maior grau na condição de altura do assento baixo e se estende em maior grau com o assento alto. Deve-se atender ao facto de que a escala de movimento de cada articulação irá afectar a escala de encurtamento/alongamento dos músculos individuais, mas a escala absoluta dentro da qual eles distendem ou encurtam será afectada pelos ângulos nos quais dada articulação age durante o movimento cíclico das extremidades inferiores (Ericson, Nisell & Nemeth, 1998).
A literatura apresenta vários estudos que consideram as forças actuantes no pedal como objecto de estudo, visto que a maior energia para o movimento é gerada pelas pernas e transmitida à bicicleta pelo pedal, já estudos que envolvem as forças actuantes no guiador e assento são mais escassos.
Em estudos acerca das forças geradas no guiador e assento, Soden e Adeyefa (1979), interessaram-se em avaliar a resistência e o desempenho dos quadros de bicicleta, e para alcançar esse objectivo fizeram medições de forças no guiador, no assento e nos pedais, durante a partida, a subida e a nível normal (terreno sem inclinação) no ciclismo. Os autores descrevem “puxões” no guiador, realizados com a força equivalente a 0,64 vezes do peso corporal, com assimetrias nas forças exercidas pelos braços, que compensam as cargas assimétricas aplicadas aos pedais no esforço para iniciar o movimento da bicicleta para a frente.
Da análise da pedalada por meio de pedais devidamente instrumentados para a medição das forças actuantes, Gregor (2000) coloca que o pico de força perpendicular á superfície do pedal é de aproximadamente 60% do peso corporal do indivíduo, sendo essa percentagem aproximadamente a mesma para todos os ciclistas.

1.4 Posição ideal em ciclismo

A bicicleta é o veículo mais utilizado no mundo, sendo também o que mais cresce em número de utilizadores, tanto com o objectivo de lazer, reabilitação ou prática competitiva. Relacionado á prática do ciclismo, o posicionamento ideal para a maximização do conforto e do desempenho tem sido bastante discutido (Burke, Pruitt).
A carência de informações a respeito das características ergonómicas do ciclismo faz com que muitos praticantes utilizem a bicicleta com desajustes, que levam ao desconforto do praticante. Frequentemente, o ajuste da bicicleta é feito com base em “tentativa e erro”, ocorrendo maus ajustes na posição do selim, guiador ou no encaixe das sapatilhas. Estes ajustes têm sido relacionados com a ocorrência de lesões, além disso, acarretando maior gasto energético (Burke, Prutt, 2003). Pequenos desajustes no posicionamento foram também descritos como uma das principais causas de lesões no joelho, bem como responsáveis por alterações nas características biomecânicas da pedalada (Diefenthaeler, et al., 2006).
A determinação da posição básica do ciclista sobre a bicicleta é um dos aspectos técnicos mais importantes no rendimento futuro do corredor (Diefenthaeler, et al., 2006).
O uso de posições incorrectas facilita o aparecimento de lesões. Assim, será necessário adaptar os componentes mecânicos às medidas do ciclista. Sendo assim, é importante adaptar a dimensão do quadro, a altura do selim, o recuo e avanço do selim, a longitude do guiador, a sua largura e o comprimento do crank (Diefenthaeler, et al., 2006).
Figura 1: Constituintes de uma bicicleta (Burke, Pruitt, 2003, pág. 82).



1.4.1 Altura do quadro

O ciclista coloca-se em pé sobre o quadro, a distância entre o tubo horizontal do quadro e a zona genital deve ser entre 2,5 a 5 cm. Este é o método mais utilizado, no entanto é de referir que existem muitos mais (Burke, Pruitt, 2003).
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1.4.2 Altura do selim

Muitas são as fórmulas publicadas, mas poucas têm uma base científica. Quanto à posição do selim a questão mais importante é que o ciclista fique sentado sobre o selim, com o pedal no centro morto inferior, o fémur faz um ângulo na vertical de 25-30º(Burke,Pruitt,2003).




1.5 As lesões no ciclismo

As lesões desportivas são provocadas por métodos inadequados de treino, alterações estruturais que sobrecarregam mais determinadas partes do corpo do que outras e pela fraqueza muscular, tendinosa e ligamentar. Muitas dessas lesões são causadas pelo desgaste crónico e por roturas, os quais são decorrentes de movimentos repetitivos que afectam os tecidos susceptíveis (Baker, 1998).
A causa mais comum das lesões musculares e articulares são os métodos inadequados de treino: o indivíduo que se exercita não permite uma recuperação adequada após uma série de exercícios ou não pára de se exercitar ao sentir dor. Todas as vezes em que os músculos são sobrecarregados por um período de exercícios intensivos, algumas fibras musculares são lesadas e outras utilizam a sua energia disponível, armazenada previamente sob a forma de glicogénio (um carbohidrato). São necessários mais de dois dias para as fibras cicatrizarem e para que o glicogénio seja reposto (Baker, 1998).
Como somente as fibras não lesadas e nutridas funcionam adequadamente, os períodos de exercícios intensivos, com pequenos intervalos de repouso, acabam exigindo um trabalho comparável por parte de uma menor quantidade de fibras saudáveis, aumentando a probabilidade de lesão. Consequentemente, um intervalo de no mínimo dois dias entre treinos intensivos ou a alternância de treinos que sobrecarregam partes diferentes do corpo podem ajudar a evitar a ocorrência de lesões crónicas. A maioria dos programas de treino alterna um período de treino intensivo num dia com repouso ou um treino mais leve no dia seguinte (Baker, 1998).
A dor, que precede a maioria das lesões por desgaste e rompimento, ocorre pela primeira vez quando um certo número de fibras musculares e de tendões começa a romper-se. A interrupção do exercício ao primeiro sinal de dor limitará a lesão dessas fibras, resultando numa recuperação mais rápida. A continuidade do exercício com dor acarretará a rotura de mais fibras, agravando a lesão e retardando a recuperação (Mellion, 1991).
As anormalidades estruturais tornam o corpo susceptível a lesões desportivas por causa do esforço desigual de várias partes do mesmo. Por exemplo, quando as pernas apresentam comprimentos diferentes, uma maior força é exercida sobre o quadril e o joelho da perna mais longa (Mellion, 1991).
Os músculos, os tendões e os ligamentos sofrem roturas quando submetidos a forças superiores à sua força intrínseca. Por exemplo, eles podem ser lesados quando são muito fracos ou tensos para o exercício que se quer realizar. As articulações apresentam uma maior propensão à lesão quando os músculos e os ligamentos que lhes provêem sustentação são fracos, como ocorre após uma entorse. Os ossos enfraquecidos pela osteoporose podem fracturar facilmente (Mellion, 1991).
Os exercícios de fortalecimento ajudam a evitar lesões. A prática regular de exercícios não aumenta, nem fortalece significativamente os músculos. O único modo de fortalecimento dos músculos consiste no exercício dos mesmos contra uma resistência progressiva como, por exemplo, praticar um desporto mais intensamente, levantar pesos progressivamente maiores ou usar equipamentos especiais de fortalecimento (Baker, 1998).
Os exercícios de reabilitação para o fortalecimento de músculos e tendões já recuperados geralmente são realizados com levantamentos ou pressão contra resistência (Baker, 1998).
Para diagnosticar uma lesão desportiva ou qualquer lesão músculo-esquelética, o clínico questiona ao paciente quando e como a lesão ocorreu. O paciente pode ser encaminhado a um especialista, para a realização de exames mais detalhados. Os exames diagnósticos incluem radiografias, a tomografia computadorizada (TAC), a ressonância magnética (RM), a artroscopia (visualização da articulação lesada com o auxílio de um pequeno aparelho visualizador inserido na articulação), a Electromiografia, e investigações computadorizadas da função muscular e articular (Baker, 1998).
O aquecimento antes do início de um exercício extenuante ajuda a evitar lesões. O exercício num ritmo relaxado durante três a dez minutos aquece os músculos o suficiente para torná-los mais flexíveis e resistentes à lesão. Esse método activo de aquecimento prepara os músculos para a prática de exercícios extenuantes de modo mais eficaz que os métodos passivos (por exemplo), água quente, bolsas e almofadas térmicas, ultra-som ou lâmpadas infravermelhas). Os métodos passivos não aumentam significativamente a circulação sanguínea (Baker, 1998).
O resfriamento – redução gradual da velocidade antes da interrupção do exercício – evita as tonturas ao manter o fluxo sanguíneo. Quando um exercício extenuado é interrompido abruptamente, o sangue pode acumular-se nas veias das extremidades inferiores, reduzindo temporariamente o fluxo sanguíneo à cabeça. Isto pode acarretar tontura e inclusive desmaio. O resfriamento também auxilia na eliminação de produtos metabólicos dos músculos (por exemplo, ácido láctico), mas parece que ele não impede a ocorrência da dor muscular de início retardado, a qual é causada pelas fibras musculares lesadas (Baker, 1998).
Os exercícios de alongamento não parecem evitar as lesões, mas eles alongam os músculos de tal forma que eles podem contrair mais eficazmente e apresentar um melhor desempenho. Para evitar a lesão muscular durante um alongamento, o indivíduo deve realizá-lo após o aquecimento ou o exercício e cada alongamento deve ser suficientemente confortável para ser mantido até a contagem atingir dez (Baker, 1998).
Apesar do ciclismo ser uma actividade muito antiga, é de estranhar que pouco se tenha pesquisado sobre o assunto do ponto de vista científico. Alguns autores que se têm interessado pelo tema referem que este facto é considerado como um factor agravante para o aparecimento de lesões (Baker, 1998).
Como já foi referido anteriormente, o ciclismo de estrada é, dentro dos vários desportos, aquele que provoca menos lesões. No entanto, existem diversos factores que condicionam o aparecimento de lesões. Um dos factores externos é a superfície onde é praticado o ciclismo, pois existem diversos pisos que condicionam o aparecimento de lesões. Os defeitos anatómicos do ciclista e a falta de manutenção da bicicleta também são factores de risco (Kronisch, 2002).
Mas existem outros factores que podem condicionar o aparecimento de lesões, como a idade, o número de anos que pratica a modalidade, o número de horas que treina diariamente, a cadência que utiliza normalmente, e a presença ou não de problemas anatómicos como as dismetrias e as alterações fémuro-tibiais (Baker, 1998).
De entre as lesões que mais acometem os ciclistas estão as lesões no joelho como as tendinites, dores lombares, estiramentos e contracturas da face posterior da coxa e, em menor percentagem, podem apresentar fasceíte e metatarsalgias (Mellion, 1991).
Os membros inferiores, por estarem mais directamente envolvidos na actividade de pedalada, são os locais que estão mais propensos às lesões. As lesões nas articulações do pé e tornozelo parecem ser menos frequentes, e estão relacionadas geralmente com o uso de sapatilhas excessivamente apertadas, o que ocasiona parestesia (Mellion, 1991).
A articulação do joelho tem-se destacado como a articulação que tem apresentado mais problemas entre os ciclistas. As dores nos joelhos são na maior parte dos casos, resultantes de uma mecânica de pedalada imprópria que, combinada com uma carga repetitiva, leva a efeitos como condromalácia rotuliana, tendinite rotuliana, síndrome infrarotuliano, entre outras (Mellion, 1991).
As lesões na articulação do joelho são decorrentes das forças geradas pelos ciclistas através do quadríceps sobre esta articulação. É Interessante notar que a potência gerada pelo ciclista tem sido usada como um dos melhores indicativos de desempenho, mas, no entanto, a sobrecarga imposta pelos músculos da coxa sobre a articulação do joelho torna-a passível de lesão, uma vez que os movimentos repetitivos característicos do ciclismo promovem um elevado stress nas cartilagens articulares, o que desencadeia um processo inflamatório da membrana sinovial, causando desconforto na articulação. Quando estes pequenos problemas não são detectados e tratados, lesões mais graves tendem a surgir, acarretando afastamentos mais prolongados da prática desportiva (Mellion, 1991).
Também problemas relacionados com a ergonomia da bicicleta são causas de lesões na articulação do joelho, isso por que a força de compressão na rótula é maior quanto maior for o grau de flexão do joelho, assim, com um maior grau de flexão, decorrente de uma menor altura do selim, maior será a pressão na rótula (Burke, Pruitt, 2003).
De um modo geral, a posição dos próprios ciclistas é de que o ciclismo por si só não gera nenhum tipo de patologia, já do ponto de vista de muitos pesquisadores, o ciclismo é causador de várias patologias. Algumas dessas patologias irão ser abordas a seguir.

1.5.1 Lesões na coluna vertebral

A coluna vertebral provém da ectoderme no seu período embrionário. A ectoderme é a camada de revestimento do embrião onde ocorre a formação das estruturas ósseas e nervosas da coluna vertebral. Dessa maneira, durante toda a vida do indivíduo, haverá uma intrínseca relação entre estrutura óssea, estrutura nervosa e pele. A estrutura óssea da coluna é formada por 33 vértebras (Kapandji, 2000).
A coluna cervical, correspondente ao pescoço, compõe-se de 7 vértebras. A coluna dorsal, correspondente ao dorso na região torácica, possui 12 vértebras e a lombar, equivalente à região da cintura, possui 5 vértebras. A região sacra, que está relacionada directamente com a bacia, é composta por 5 vértebras fusionadas entre si, constituindo um osso único e compacto. O cóccix é formado por 4 vértebras articuladas ao final do sacro. Este número pode variar conforme alteração genética da coluna de cada indivíduo, podendo, desta maneira, apresentar 6 vértebras lombares ou 3 coccígeas. A coluna vertebral é composta por quatro curvas fisiológicas assim formadas: curva cervical, com 7 vértebras, a dorsal com 12, a lombar com 5, a sacra também com 5 vértebras e a coccígea variando de 3 a 4 estruturas. O conjunto de curvas exerce entre si um fenómeno compensatório, pois as lordoses compensam-se com as cifoses e vice-versa. Este fenómeno auxilia na descarga do peso corporal. Se não houvesse essas curvas, a base da coluna lombar suportaria pressões de até 1.000 Kg num homem de 70 Kg na posição sentada. As forças concentram-se numa pequena superfície vertebral na região lombar e por esse motivo exercem essa grande pressão de carga (Kapandji, 2000).
A coluna vertebral, no sentido antero-posterior, constitui-se num edifício rectilíneo por aposição das estruturas vertebrais. O edifício vertebral, visto lateralmente ou em perfil, apresenta curvas lordóticas, cifóticas, rígidas, semi-rígidas e móveis. As móveis são as curvas dos segmentos cervical e lombar. São móveis por serem livres de fixação óssea, tendo a sua estabilidade apenas pelas inserções das estruturas ligamentares e musculares. A sua estabilidade depende da vitalidade dos elementos ligamentares e musculares. Isto revela a importância da integridade e treino da estrutura muscular e principalmente dos músculos abdominais para mantermos a boa estabilidade da coluna vertebral. (Kapandji, 2000).
A curva dorsal ou torácica é cifótica com convexidade posterior e semi-rígida. A sua condição de semi-rígida é produzida pela fixação nos arcos-costais, impedindo-a de realizar determinados movimentos através das apófises transversas e da porção posterior dos corpos vertebrais torácicos, onde se localizam as articulações costo-transversa e costo-vertebrais, subsequentemente (Kapandji, 2000).
Na porção superior da curva cervical, faz-se a sustentação da calota craniana e a apófise odontóide permite as rotações para a direita e para a esquerda do crânio em relação ao eixo vertebral. No segmento cervical e lombar, os movimentos laterais e rotacionais fazem-se com a participação das apófises articulares, ligamentos inter-transverso e disco intervertebral. Já no movimento antero-posterior temos a maior participação do disco intervertebral, apófises articulares e ligamento inter-apofisário posterior e ligamento longitudinal anterior e posterior (Kapandji, 2000).
As forças de cizalhamento e rotacionais são as mais agressivas dos movimentos vertebrais. Portanto, são elas que frequentemente dão origem às lesões na unidade funcional (Kapandji, 2000).
A sacro-coccígena é uma curva de convexidade cifótica e é rígida devido à fusão entre os corpos vertebrais. A estrutura do sacro articula-se com o osso ilíaco, gerando com o mesmo a sustentação e estabilidade óssea de todo o edifício da coluna vertebral (Kapandji, 2000).

1.5.1.2 Lombalgia

Há muito tempo que as lombalgias são responsáveis por grande parte das queixas de lesões dos ciclistas. O aparecimento das dores na região lombar vem crescendo juntamente com a tecnologia, isto é, a tentativa de melhoria da aerodinâmica do ciclista na bicicleta muitas vezes implica o seu mal posicionamento, predispondo-o a lombalgias (Chow, Kronisch, 2002).
Embora na bicicleta de estrada a coluna, aparentemente, sofra mais devido à curvatura acentuada em resposta a posição mais aerodinâmica e por um quadro mais curto, no mountain bike o ciclista tem uma posição mais confortável, porém, existem outros factores como o impacto e com as irregularidades do terreno, assim como subidas e descidas íngremes (Chow, Kronisch, 2002).
Os principais factores causadores das lombalgias podem ser: desvios posturais, desequilíbrio muscular, fraqueza muscular, lesões mal tratadas, mal ajuste da bicicleta, terrenos muito acidentados ou com longos declives e declives acentuados (Chow, Kronisch, 2002).
Na reabilitação, tratar a dor é a coisa mais fácil, o difícil é identificar e tratar o agente causador da dor, evitando que ela volte a manifestar-se. Por isso, o segredo está na avaliação do paciente/atleta, sendo o diagnóstico a peça-chave para um prognóstico satisfatório (Baker, 1998).
Como recursos para o tratamento das lombalgias, podem ser utilizados: anti-inflamatório, fisioterapia (analgesia, diatermia, exercícios e alongamentos específicos, mobilizações articulares,...), entre outros (Baker, 1998).
Embora seja do desconhecimento de muitos ciclistas, o fortalecimento dos músculos do tronco (paravertebrais, reto abdominal, oblíquos e transversos) é muito importante para prevenir as dores. Esses músculos fortalecidos fazem com que se tenha uma maior estabilidade na coluna, prevenindo deste modo futuras lesões (Baker, 1998).
Alongamentos globais antes e depois dos treinos, ajuste correcto da bicicleta, trocas da posição sentada para a de pé durante as longas pedaladas, são algumas dicas úteis para tornar o treino mais confortável (Baker, 1998).
Para alguns atletas, as lombalgias são como enigmas indecifráveis. Para resolução dos problemas é aconselhável que sejam procurados sempre profissionais especialistas em coluna ou em reabilitação desportiva (Baker, 1998).
Por mais que a bicicleta seja impulsionada pelas pernas, o fortalecimento de outros grupos musculares é muito importante para manutenção da harmonia do nosso corpo. Assim, Chow e Kronisch (2002), observaram que a posição da coluna durante a prática do ciclismo difere muito da sua posição fisiológica erecta. O stress mecânico na coluna durante o exercício, que por vezes prolonga-se por um longo período, é difícil de avaliar. Nos seus estudos, os autores constataram que a dor na coluna lombar nos ciclistas tem sido atribuída á contracção muscular secundária ao esforço do treino ou da competição. O autor refere ainda que esta dor raramente mostra sintomas de compressão nervosa.
Treinar envolve adaptação do corpo ao esforço físico e a uma postura específica a este esforço. Assim, o treino requer adaptação do corpo à postura assumida na bicicleta durante a sua utilização. As novas e mais aerodinâmicas bicicletas que foram concebidas para corridas, aumentam a horizontalização da coluna do ciclista e provocam mudanças biomecânicas na coluna lombar (Chow, Kronisch, 2002).
A posição do ciclista na bicicleta cria uma força compressiva na parte anterior dos discos intervertebrais e uma força distensiva na parte posterior, fazendo o núcleo, como o eixo do movimento, o ponto das forças mínimas.
A inversão do ângulo da lordose fisiológica tenciona o complexo ligamentar posterior da vértebra. Esta tensão pode causar lombalgias (Chow, Kronisch, 2002).
Um dos mais importantes mecanismos de defesa para a coluna lombar durante a actividade de carga é o aumento da pressão intra-abdominal. Isto reduz o stress da coluna, melhorando a sua estabilidade. Porém este mecanismo de defesa está ausente no ciclismo, pois os músculos abdominais permanecem completamente relaxados durante a pedalada. Este desequilíbrio entre músculos flexores e extensores pode originar dor lombar (Mellion, 1991).
As dores nas costas e pescoço são problemas bastante comuns nos ciclistas. Muitas dessas dores são causadas pela combinação da carga progressiva nos braços e nos ombros, necessária ao apoio do tronco e da hiperextensão do pescoço na posição de ciclismo horizontal. Quando o ciclista usa o guiador numa posição baixa, vai aumentar a carga sobre os braços e ombros, e hiperextende o pescoço. Se a combinação do comprimento é muito longa para o tamanho do ciclista, a hiperextensão do pescoço é aumentada (Mellion, 1991).

1.5.2 Estiramentos e contracturas

Ocorre principalmente na zona posterior da perna e nos quadríceps, em geral por, excesso de carga. É importante que se alongue antes e depois dos exercícios e procurar praticar musculação para promover o fortalecimento dos grupos musculares envolvidos na pedalada. É também fundamental procurar descansar depois de treinos muito árduos e de competições. O descanso deve fazer parte integrante do treino. Por outro lado, a massagem também é um bom método para prevenir este tipo de lesões (Mellion, 1991).

1.5.3 Lesões do Joelho

O joelho é uma das maiores articulações do corpo humano e também uma das que mais sofre lesões. Essa articulação é formada pela extremidade distal do fémur, extremidade proximal da tíbia, rótula, ligamentos, meniscos e tendões de músculos que o cruzam (Escamilla, 2001).
O ciclismo é um desporto que está em amplo crescimento especialmente nas últimas duas décadas. A prática do ciclismo pode trazer grandes benefícios de saúde como a perda de gordura, melhoria da capacidade cardiovascular e melhoria nos níveis de stress e ansiedade entre outros. Porém, como na maioria dos desportos, a prática do ciclismo pode acabar por originar lesões que necessitem de atenção especializada. Uma das queixas mais comuns dos ciclistas é a dor no joelho (Baker, 1998).
O joelho pode ser lesionado de várias formas por ser muito vulnerável ao trauma directo (pancadas) ou indirecto (entorse), além de ser lesionado principalmente pelo excesso de uso ou uso inadequado (regiões condrais e tendíneas são as mais acometidas). As lesões no joelho são muito comuns no meio desportivo. Praticamente todas as estruturas do joelho podem ser lesionadas, mas as lesões mais comuns são: lesões ligamentares (distensões), tendinite rotuliana, condromalácia rotuliana e lesões dos meniscos (Escamilla, 2001).
No que se refere às lesões ligamentares é importante salientar que existem quatro grandes ligamentos no joelho: Ligamento Cruzado Anterior (LCA), Ligamento Cruzado Posterior (LCP), Ligamento Colateral Medial (LCM) e Ligamento Colateral Lateral (LCL). O joelho é estável em extensão, passível de rotação axial (quando flexionado), fazendo com que essa articulação seja menos estável na flexão. Os ligamentos que apresentam uma maior incidência de lesões são o LCA e o LCM, sendo o estiramento dos ligamentos uma das mais comuns nos tecidos moles do joelho, podendo ser classificado como (Escamilla, 2001):
1º Grau - Leve estiramento, com pequena tumefacção e sem perda da estabilidade. Neste caso o ligamento permanece íntegro e após o trauma o indivíduo consegue andar. A dor acontece somente no movimento e, em alguns casos, ao toque.
2º Grau - Estiramento de cerca de 50% das fibra, com grande dificuldade de movimentos, sendo a estabilidade preservada na maioria dos casos.
3º Grau - Estiramento de cerca de 75% das fibras, com presença de hematoma acentuado e perda da estabilidade.
4º Grau - Ruptura ligamentar total ou avulsão, com rompimento da cápsula e possível ruptura meniscal que consiste numa lesão grave.
A ruptura isolada do LCA pode acontecer, porém geralmente, é mais comum que esse ligamento seja danificado conjuntamente com outros ligamentos. O mecanismo básico da lesão do LCA envolve a hiperextensão do joelho, como por exemplo, um golpe directo na parte frontal do fémur com o pé fixo no chão. O LCA também se distende em actividades que exigem mudanças rápidas de direcção. Durante a reabilitação, devem-se evitar alongamentos agressivos dos isquio-tibiais e os exercícios devem ser executados inicialmente com os joelhos ligeiramente flectidos. Os exercícios de cadeia cinética fechada são os mais indicados. O fortalecimento dos isquio-tibiais é de suma importância, uma vez que eles ajudam na estabilização do joelho. Actualmente a reabilitação desse tipo de lesão tem sido feita utilizando o agachamento como principal exercício, pois durante a sua execução não existem forças tencionais significativas no LCA. Isso deve-se em parte à moderada activação dos isquio-tibiais, que ajuda a aliviar a tensão no LCA devido ao mecanismo de co-contração. O interessante é que à medida que aumenta o ângulo de flexão de joelhos, aumenta também a contracção dos isquio-tibiais, fazendo com que o agachamento profundo possa ser utilizado em estadios mais avançados de recuperação. A frouxidão ligamentar do LCA lesionado pode ser controlada em exercícios de cadeia cinética fechada (ECCF) mas, não em exercícios de cadeia cinética aberta (ECCA) (Escamilla, 2001).
Por outro lado, durante o acto de pedalar, a rótula desloca-se para cima e para baixo, deslizando sobre o fémur. Quando a mecânica do joelho é correcta a rótula desliza pressionando uniformemente o fémur, distribuindo as cargas de maneira ideal. Porém, quando a técnica ou o equipamento é inadequado ou existe alguma pré-disposição mecânica do joelho, a rótula pode deslocar-se de maneira errada, sobrecarregando, deste modo, as cartilagens do joelho. Desta maneira, os praticantes de ciclismo queixam-se frequentemente de dor na região anterior do joelho (Burke, Pruitt, 2003).
No seu movimento de deslocamento para cima e para baixo, se existir um desequilíbrio muscular ou anatómico, a rótula permanece numa posição inadequada, gerando uma compressão na região da articulação, levando á lesão (Burke, Pruitt, 2003)
Quando o selim está muito baixo, o joelho precisa ser muito flectido para fazer a volta completa do pedal, originando um alto grau de sobrecarga na articulação femuro-patelar. O ideal é que o joelho esteja em torno de 20 a 30 graus de flexão.Quando se pedala com o joelho “muito para fora”, a carga fica distribuída de maneira desigual na articulação, sobrecarregando apenas umas das faces da rótula, o que leva consequentemente à ocorrência de lesões. Portanto, é importante pedalar deixando os joelhos alinhados com os pés, como se estivessem sempre directamente acima dos pedais (Burke, Pruitt, 2003).
A lesão no joelho pode ter como factores desencadeantes, a exposição ao vento, a mudanças bruscas de temperatura, ao gesto repetitivo da pedalada, provas sucessivas com muita exigência, mudanças da cadência da pedalada, entre outras (Baker, 1998).
Uma das lesões mais comuns no ciclismo é a dor anterior no joelho (Baker, 1998). Segundo o autor, as lesões por sobrecarga na articulação do joelho correspondem a 25% das lesões reportadas por ciclistas de todos os níveis.
A etiologia destas lesões é muito variada. O tamanho do pedal e, consequentemente, o tamanho da área de contacto do pé com o pedal é um dos factores que afecta no desenvolvimento de lesões crónicas no membro inferior. O tipo de pedalada e o ângulo do tronco também são factores determinantes na sobrecarga articular. O mau alinhamento nas estruturas do pé como sendo um factor que afecta na cinemática do joelho, provocando dor e lesões ao nível desta articulação (Chow, Kronisch, 2002).
É necessário incorporar a esta, a cinética do membro inferior durante o ciclismo, para que seja possível o estudo das forças e momentos durante a pedalada e avaliar o mecanismo potencial das lesões (Chow, Kronisch, 2002).
Além da avaliação do potencial lesivo, o conhecimento das forças articulares e momentos musculares permite a análise das potências musculares das articulações envolvidas no movimento, que fornece indicadores para a avaliação da técnica utilizada pelo atleta durante o ciclismo (Chow, Kronisch, 2002).
Na maioria das vezes, o ajuste da bicicleta é feito com base em “tentativa e erro”, ocorrendo maus ajustes na posição do selim, guiador ou dos “tacos” das sapatilhas. Estes ajustes têm sido relacionados com a ocorrência de lesões, além disso, acarretam maior gasto energético, afectando o desempenho.
Pequenos desajustes no posicionamento foram também relatados como uma das principais causas de lesões nos joelhos, bem como por promover alterações em características biomecânicas da pedalada (Burke, Pruitt, 2003).
Quando o ciclista pedala com o selim muito baixo e/ou avançado pode ocorrer uma flexão ou uma “movimentação” médio-lateral excessiva do joelho, enquanto com o selim muito alto e/ou recuado pode ocorrer uma tensão excessiva dos músculos posteriores da coxa, podendo ocasionar lesões, como por exemplo, tendinites. A ocorrência de lesões nesta articulação está ligada ao facto da grande magnitude de força muscular gerada pelo quadriceps, durante o ciclismo, a qual é transmitida ao movimento, principalmente, por esta articulação. Isso faz com que uma flexão excessiva da articulação do joelho leve a uma maior carga de compressão na articulação patelo-femoral, à medida que a flexão aumenta (Burke, Pruitt, 2003).
Alguns autores associam esta sobrecarga à condromalácia da rótula, que é uma lesão da cartilagem articular deste osso, devido ao excesso das forças de cizalhamento (“atrito”) entre a rótula e a porção distal do fémur durante ou após esforços repetitivos de flexão do joelho. O sintoma mais comum é a dor atrás da rótula, especialmente nas subidas ou durante longos percursos com pedaladas lentas. O cizalhamento dá-se devido à acção do músculo anterior da coxa (o quadríceps) que força a rótula contra o fémur, para poder estender a perna no momento da pedalada. Tal compressão é maior no início da extensão. A presença de um mau alongamento da musculatura isquio-tibial (posterior da coxa) é um agravante do quadro clínico (Mellion, 1991).
1.5.4 Lesões no pé

1.5.4.1 Fasceíte Plantar

A Fasceíte plantar é uma causa comum de talalgia, principalmente em indivíduos que apresentam distúrbio postural dos pés e que praticam actividades desportivas. A fasceíte plantar é definida classicamente como uma inflamação da fáscia plantar.
A fasceíte plantar refere-se a uma dor plantar, no ponto de origem da fáscia plantar, na tuberosidade medial do calcâneo. Caracteriza-se por uma inflamação ocasionada por microtraumatismos de repetição, na origem da tuberosidade medial do calcâneo. As forças de tracção durante o apoio levam ao processo inflamatório, que resulta em fibrose e degeneração das fibras fasciais que se originam no osso. As suas manifestações caracterizam-se pela dor local e em redor da base do calcâneo e no arco plantar, principalmente ao levantar-se da cama, ou após um período de repouso (Singh, D. et al, 1997).
A pronação excessiva do pé apresenta maior probabilidade para o desenvolvimento desta doença, em virtude do aumento da resultante de força na aponevrose, em consequência do alongamento do arco longitudinal interno e expansão dos dedos (Singh, D. et al, 1997).
No exame físico, observa-se uma marcha anti-álgica, com apoio sobre a parte lateral ou anterior do pé. Há palpação dolorosa da região medial do calcâneo e a dorsiflexão dos dedos exacerba os sintomas, pela distensão da fáscia plantar. A dor produzida pela fasceíte plantar geralmente não é incapacitante, embora possa limitar algumas actividades. Pontos dolorosos na região medial dos gémeos e do tendão de Aquiles podem ser encontrados, o que demonstra uma relação entre a fasceíte plantar e a rigidez do tendão de Aquiles e musculatura posterior da perna (Singh, D. et al, 1997).
O tratamento da fasceíte plantar é eminentemente conservador e inclui a administração de anti-inflamatórios não esteróides; o uso de suportes plantares ou palmilhas de material macio para suporte do calcanhar e, em alguns casos, do arco longitudinal; restrição das actividades que envolvam apoio prolongado, deambulação de longa distância, saltos e corridas; exercícios para alongamento da fáscia plantar e do tendão de aquiles; assim como recursos que promovam analgesia e diminuição das tensões. A infiltração de corticóides pode ser utilizada em casos persistentes, porém oferece o risco de atrofia e degeneração do tecido adiposo, assim como a degeneração e ruptura da fáscia (Filippou, et al, 2004).



1.5.4.2 Metatarsalgia

Sob a denominação de “metatarsalgias” estão englobadas várias patologias que se caracterizam por produzir dor no antepé. O termo refere-se a “dor na região metatársica, geralmente semelhante a uma pedra dentro do sapato, de forma que foram reunidas sob o mesmo título diversas causas de ordem local e geral que resultam em síndromes dolorosos do segmento anterior do pé. As metatarsalgias prevalecem nos adultos, sendo raras nas crianças. Quanto ao sexo, predominam no sexo feminino, numa proporção de 8:1, o que demonstra a participação do uso de certos tipos de calçado na génese de um grande número de casos (Besse, 2008).
Segundo Viladot (1960), 92% das metatarsalgias são de origem mecânica. As metatarsalgias podem ser difusas, quando atingem todo o antepé ou uma parte dele, não podendo ser atribuídas a uma só estrutura.
As cargas distribuídas no antepé durante a marcha, concentram-se em três metatarsos, predominando no segundo. A participação do I e do II são semelhantes e bastante superiores às do IV e V metatarsos. Um controlo postural adequado requer a manutenção do centro de gravidade sobre uma base de sustentação durante situações estáticas e dinâmicas, pelo que alterações no tamanho e posição de um ou mais metatarsos podem originar o aparecimento de sintomatologia, devido a uma carga mal distribuída no antepé (Besse, 2008).
A principal queixa é a dor. As suas características (tipo, intensidade, periodicidade, localização e irradiação) estão na dependência do agente etiológico e, de forma geral, relacionam-se directamente com a marcha ou o ortostatismo prolongado. Nos quadros iniciais, a dor é geralmente leve, pouco incapacitante e melhora com o repouso. Com a progressão e estruturação das deformidades pré existentes, torna-se intensa, constante e altamente incapacitante. O achado clínico mais constante nas metatarsalgias mecânicas é a presença de hiperqueratoses nas regiões onde se observa a existência anómala de pressões. O exame clínico, além de objectivar a detecção de todas as de deformidades associadas ao quadro, deve tentar estabelecer o seu grau de redutibilidade, factor determinante na escolha do tratamento adequado. A podoscopia visualiza a pegada ou impressão plantar reflectida num espelho e identifica as áreas de maior pressão. O tratamento inicial das metatarsalgias é conservador e deve incluir anti-inflamatórios, o uso de órtoteses e calçados adequados, a reabilitação dos segmentos atingidos por deformidades redutíveis e a normalização da distribuição das cargas nas zonas patológicas (Besse, 2008).
O tratamento médico da patologia de base, quando a metatarsalgia decorre de doenças gerais, é imperativo. Por outro lado, o uso de calçado com barras anteriores amplas, de material macio, com solas de material viscoelástico e de palmilhas de descarga ou palmilhas monobloco para a redistribuição de cargas é bastante útil e deve sempre preceder qualquer indicação de tratamento cirúrgico (Besse, 2008).
A adequação de um calçado ou palmilha é fruto de uma constante troca de informações entre o doente e os profissionais de saúde, não existem fórmulas mágicas ou pré-concebidas. Cada caso deve ser trabalhado isoladamente (Besse, 2008).

1.6 Morfologia do pé

O pé, estrutura situada na parte inferior da perna, é um órgão funcional e dinâmico (Goldcher, 1992).
Fuente (2003) considera o pé como uma unidade anatómo-funcional integrada no aparelho locomotor, que pode ser dividido em três partes: retropé, formado pelo astrágalo e pelo calcâneo; mediopé, composto pelo escafoide, pelos três cuneiformes e pelo cuboide; e antepé, formado pelos metatarsos e pelas falanges.



1.6.1 Pé plano

O pé plano representa uma alteração da abóbada plantar, acompanhada por um valguismo do retropé, pronação do médiopé e abdução do antepé (Fuente, 2009).
Bega (2008), identifica o pé plano como aquele no qual o arco longitudinal interno está ausente ou diminuído, geralmente acompanhado de pronação (eversão do pé).
Lavigne e Noviel (1994), mencionam que um pé plano está associado a um aumento da superfície de apoio no solo, podendo classificar-se em três graus em função desse mesmo apoio plantar:
Pé plano de primeiro grau, no qual se observa um aumento da zona externa do arco de apoio e o calcanhar tende a perder a sua forma oval, e a assumir uma forma mais rectangular;
Pé plano segundo grau, no qual existe um aumento da zona externa em relação ao pé plano de 1ºgrau e o bordo interno apresenta-se rectilíneo;
Pé plano terceiro grau, no qual existir um contacto da totalidade da zona plantar do pé com o solo, através de um aumento excessivo da abóbada plantar.
Estudos mais recentes referem que o pé plano pode ser classificado em quatro graus distintos (Fuente, 2009);
Pé plano de primeiro grau, no qual a largura mínima do istmo é maior ou igual à metade da largura máxima do antepé.
Pé plano de segundo grau, no qual existe um contacto do bordo interno do pé com o solo, embora a abóbada se mantenha.
Pé plano de terceiro grau, no qual se observa um desaparecimento completo da abóbada plantar, com grande protuberância interna, mantendo o apoio do bordo externo.
Pé plano de quarto grau, que apresenta uma largura de apoio maior na parte central do que no antepé e retropé.



1.6.2 Pé Cavo

O pé cavo caracteriza-se por um aumento do arco longitudial interno, resultando numa aproximação entre o antepé e o retropé (Fuente, 2009).
Este tipo de pé aparece geralmente acompanhado de supinação (inversão do pé) (Bega, 2008).
Lavigne e Noviel (1994), referem que um pé cavo se caracteriza por um excesso de curvatura da abóbada plantar e uma diminuição da superfície de apoio. Os autores classificam o pé cavo em três graus:
Pé cavo 1º grau, caracterizado por uma diminuição da largura do lado externo;
Pé cavo 2ºgrau, no qual existe uma ruptura externa do istmo;
Pé cavo 3º grau, caracterizado por apenas realizar apoio da zona metatársica e da região do calcanhar, devido ao total desaparecimento do istmo, sendo que, por vezes, também se verifica o desaparecimento dos apoios digitais.
Outros autores classificam o pé cavo em cinco diferentes tipos (Fuente, 2009):
Pé pré-cavo, no qual a abobada plantar interna possui um aspecto normal, com uma presença marcada do primeiro, segundo, terceiro e quarto dedos e proeminência externa da zona média do pé;
Pé cavo funcional, associado ao desaparecimento do apoio dos dedos, mas com um apoio da zona média semelhante ao normal;
Pé cavo 1º grau, caracterizado por uma redução do apoio plantar do istmo, tornando-se inferior a um terço da largura metatársica;
Pé cavo 2º grau, caracterizado pela ausência total do istmo;
Pé cavo 3º grau, o qual se caracteriza pelo desaparecimento total do apoio plantar medial e dos dedos.

1.7 Alterações femuro-tibiais

Segundo Valmassy (1996), a articulação do joelho é uma articulação muito complexa, sede de muitas lesões desportivas.
A articulação do joelho é uma articulação com um grau de liberdade (flexão-extensão), que lhe permite aproximar ou afastar a extremidade do membro do corpo em relação ao solo. O joelho trabalha essencialmente em compressão, sob a acção da gravidade. Acessoriamente, a articulação do joelho comporta um segundo grau de liberdade de movimentos: a rotação sobre o eixo longitudinal da perna, a qual apenas está presente quando o joelho está flectido. Sob o ponto de vista mecânico, esta articulação concilia dois imperativos contraditórios, sendo um deles possuir uma grande estabilidade em extensão completa, posição na qual o joelho sofre importantes esforços associados ao peso do corpo e ao comprimento dos braços da alavanca, e adquirir uma grande mobilidade a partir de um certo ângulo de flexão, mobilidade esta necessárias algumas actividades desportivas, como a corrida.
A normal amplitude de flexão com a coxo-femural extendida é 120º aproximadamente, enquanto que com a articulação coxo-femural flectida varia entre os 140º a 160º. Com a coxo-femural flectida a 90º, a amplitude de extensão do joelho é de 160º, enquanto que com a coxo-femural extendida a amplitude aumenta para 180º (Valmassy, 1996).
É na flexão, posição de instabilidade, que o joelho está exposto ao máximo às lesões ligamentares e meniscais, porém é no movimento de extensão que ele é mais vulnerável às fracturas articulares e às rupturas ligamentares (Kapandji, 2000).
Segundo Kendall (2007), nos joelhos encontra-se com frequência transtornos no alinhamento quer no plano frontal, quer no plano sagital. No plano frontal em geral o eixo entre o fémur e a tíbia formam ao nível do joelho um ângulo de 5 a 7 graus (valgo fisiológico). No plano lateral os eixos entre o fémur e tíbia formam um ângulo de 180 graus.
Alterações de joelho como genu valgum, genu varum, genu recurvatum e genu flexus, são descritas como alterações posturais e poderão ser um factor propício ao aparecimento de alterações no joelho (Goldcher,1992).
Observa-se um joelho valgo quando os graus do valgo fisiológico aumentam. Os joelhos aproximam-se pela face interno enquanto que os tornozelos se afastam, o que leva a transtornos no alinhamento (Kendall, 2007). Também Goldcher (1992), menciona que um genu valgum produz uma separação intermaléolar (SIM) ao nível dos tornozelos e, normalmente, associa-se a um valgo de calcanhar.
O geno valgo associa-se a uma rotação lateral do fémur com pronação dos pés e hiperextensão do joelho, havendo uma adução da anca e uma diminuição do ângulo entre o fémur e a pelve. A hipotonia pode ser um facto responsável pela adução do joelho (Kendall, 2007).
Os joelhos varos observam-se quando os graus de valgo fisiológico diminuem; os joelhos separam-se (Kendall, 2007). De acordo com Goldcher (1992), o genu varum, caracteriza-se por uma separação intercondiliar interna (SIC), em que se verifica um varo do pé durante a locomoção. Para Levangie & Norkin (2001), um genu varum define-se como sendo uma alteração na qual os joelhos encontram-se excessivamente separados, no entanto os pés e os maléolos encontram-se juntos.
A posição dos joelhos no plano frontal é determinada colocando o paciente em decúbito dorsal com a pelve no plano frontal. Se os joelhos se tocam e os pés se afastam, existe um genu valgum. A quantificação da extensão da deformidade é medida pela distancia entre os maléolos tíbiais. Contrariamente, se os pés se tocam e os joelhos se separam, existe um genu varum. A deformidade em varo é quantificada pela distancia entre os côndilos mediais da tíbia (Valmassy, 1996).

1.8 Comprimento dos membros inferiores

A medição do comprimento dos membros inferiores permite-nos avaliar o alinhamento das extremidades inferiores e a possível existência de assimetrias/dismetrias.
Segundo Fuente (2005), as dismetrias podem ser reais, quando o encurtamento de um membro em relação ao contralateral é objectivável, ou aparentes, quando o encurtamento é produzido por factores posturais, podendo também designar-se por dismetria funcional.
Estas alterações, numa grande percentagem dos casos, induzem diferenças de apoio dos pés, como compensação da diferença existente. Assim, na extremidade mais longa a SAG encontra-se em máxima pronação, o astrágalo em flexão plantar e adução, o calcâneo em eversão e o joelho em flexão; enquanto na extremidade mais curta ocorre precisamente o oposto. Em alguns casos, pode ainda observar-se uma curvatura anormal no plano frontal, ou seja, uma escoliose como compensação da dismetria (Magee, 2002).
O comprimento dos membros inferiores pode ser avaliado de uma forma indirecta, recorrendo ao uso de uma fita métrica ou de forma directa, através da realização de uma radiografia da anca e membros inferiores. A avaliação indirecta deve ser realizada com o indivíduo em decúbito dorsal, com a anca estabilizada no plano frontal, tendo como referências a espinha ilíaca antero-superior e o maléolo tibial (Hoppenfeld, 1984).
No caso particular dos desportistas as diferenças de comprimento dos membros devem ser devidamente valorizadas, uma vez que, por mais pequenas que sejam, podem originar desequilíbrios musculares e alterações biomecânicas com aumento do gasto energético para os deslocamentos da massa corporal e para a realização dos gestos desportivos, o que poderá interferir de forma significativa no seu rendimento e na ocorrência de lesões.



2 Metodologia

2.1 A ética da investigação

A ética, segundo Fortin, é a ciência da moral e a arte de dirigir a conduta. É o conjunto de permissões e de interdições que têm uma grande importância para a vida das pessoas pois serve de inspiração para direccionar a sua conduta (Fortin, 1999).
Witts refere que os princípios éticos são fáceis de serem estabelecidos teoricamente, porém muito difíceis de serem aplicados na prática. Os três princípios fundamentais de ética médica defendidos por ele são o dever haver consentimento prévio, livre e consciente, do paciente, em participar na experiência clínica; a experiência deve visar dar algum benefício para a humanidade, o qual não pode ser obtido de outra forma; e evitar-se todo e qualquer risco e sofrimento físico e mental desnecessário (Haddad, 2004).
Os trabalhos de investigação devem ter em conta, sobretudo, o direito de cada indivíduo e salvaguardar a sua integridade pessoal. Mas para isso será necessário adoptar medidas de modo a respeitar a sua intimidade e fazer com que o estudo não interfira na sua integridade física e mental (Haddad, 2004).
Segundo o primeiro princípio de Witts, é antiética a realização de experiências clínicas em prisioneiros e em deficientes mentais, uma vez que os primeiros não podem dar o seu consentimento livremente e os segundos não podem dar o seu consentimento conscientemente. Estes problemas de ética médica foram tema de discussão, a nível internacional, na 18ª Assembleia Médica Mundial, realizada em 1964, em Helsínquia, Finlândia, resultando numa série de recomendações, que mais tarde foram revistas pela 29ª Assembleia Médica Mundial, realizada em 1975, em Tóquio. Todas essas recomendações foram reunidas numa publicação que ficou conhecida como a declaração de Helsínquia (Haddad, 2004).



2.2 Tipo de estudo

O meu projecto de investigação insere-se na categoria de tipo de estudo exploratório-descritivo. Este tipo de estudo fornece uma descrição de dados, quer seja sob a forma de palavras, de números ou de enunciados descritivos de relações entre as variáveis (Fortin, 1999).



2.3 População e amostra

A população teórica é o conjunto de todos os elementos que temos interesse em generalizar, mas que quase nunca é possível na pratica ser trabalhado. Sendo assim, surge a necessidade de formar a população do estudo, que é um grupo de elementos mais restrito e de fácil acessibilidade (Maroco, 2003).
A população do estudo vai abranger todos os ciclistas de equipas Portuguesas com o mínimo de 10 anos de actividade.
O processo de amostragem é bastante complexo, pois, por vezes é mais difícil obter uma amostra representativa do que proceder às observações feitas nessa amostra (Maroco, 2003).
Este estudo insere-se no tipo de amostragem probabilística, uma vez que cada unidade amostral da população tem uma probabilidade conhecida e diferente de zero de pertencer á amostra. Através deste processo é possível conhecer as probabilidades de cada uma das amostras possíveis (Fortin, 1999).
A amostra foi composta por 53 ciclistas profissionais do sexo masculino, com o mínimo de actividade de 10 anos.

2.3.1 Critérios de inclusão

Como critérios de inclusão na amostra definiu-se que seriam ciclistas profissionais do sexo masculino, com um mínimo de 10 anos de prática desportiva, que aceitassem participar no estudo de forma voluntária.

2.3.2 Critérios de exclusão

Como critérios de exclusão estipulou-se que não pertenceriam à amostra ciclistas que se encontrem lesionados, que tivessem interrompido a prática desportiva, que praticassem a modalidade de uma forma amadora, que praticam outras vertentes de ciclismo para além de estrada.

2.4 Material e métodos

Neste trabalho foram utilizados diversos materiais deforma a auxiliar o processo de recolha de dados.
Inicialmente foi utilizado um relatório clínico como grelha de registo dos dados sociodemográficos e dos dados resultantes do processo de avaliação observacional.
Como meios auxiliares de diagnóstico para a determinação do tipo de pé foram utilizados um pedígrafo de 390 mm de comprimento e 240 mm de largura (Guy Capron SA ®), tinta, um rolo de tinta e folhas brancas A4, e um podoscópio de (Guy Capron SA®).
O pedígrafo permite obter a imagem do apoio plantar. Trata-se de um instrumento com uma tela elástica na parte superior, que se impregna interiormente de tinta com um rolo. Ao apoiar o pé em cima dessa mesma tela, esta entra em contacto com o fundo da caixa, onde encontra uma folha de papel, e onde fica registada a imagem correspondente ao apoio do pé no solo (Fuente, 2009).
O podoscópio é um aparelho que permite obter uma imagem do apoio plantar do pé em ortostatismo. É um dispositivo composto por um espelho que reflecte a imagem plantar e permite a visualização directa da pegada plantar (Pericé, 2000).
Foi também utilizada uma marquesa e uma fita métrica para a medição dos membros inferiores, cuja função foi verificar se existe alguma assimetria/heterometria.
A fita métrica pode ser definida como um instrumento de medida muito utilizado na área clínica, especialmente pela Fisioterapia e Podologia.
Segundo alguns autores, para se proceder à medição dos membros inferiores, coloca-se o atleta em decúbito dorsal, com as pernas em extensão e de seguida com a fita métrica verifica-se a distância compreendida entre a crista ilíaca ântero-superior e o maléolo interno. Efectua-se este procedimento, tanto para a perna esquerda como para a perna direita (medida real) (Goldcher, 1992 e Hoppenfeld, 1984).

2.5 Procedimento

O primeiro procedimento foi obter as autorizações dos indivíduos dispostos a participar no estudo, após o qual e antes de iniciar a recolha explicou-se pormenorizadamente aos indivíduos que compõem a amostra os objectivos do estudo. De seguida, cada elemento da amostra preencheu um consentimento informado. Por fim, foram sujeitos a um questionário de cariz sócio-demografico e a uma observação para a recolha dos dados necessários.
O questionário reuniu os seguintes dados: idade dos indivíduos, lesões sofridas e respectivas causas, anos de prática, horas de treino diário, descanso entre cada treino, tipo de treino, realização de aquecimento antes de cada treino e ajuste do selim.
De seguida, avaliou-se a possível existência de alterações estruturais ou funcionais do membro inferior, que de alguma forma pudessem constituir causa ou factor agravante das lesões do membro inferior, tais como alterações da morfologia do pé e do joelho e presença de dismetria.
Para identificar a morfologia ou estrutura do pé em carga foi utilizado um pedígrafo para a realização das pedigrafias em estática de modo a avaliar a impressão plantar e classificar os pés em função do seu apoio, através do cálculo da largura do istmo (Goldcher, 2007). Segundo Fuente (2003), o pedígrafo permite a obtenção de pedigrafias, que não são mais do que impressões em tinta registadas em papel quando o pé é apoiado sobre o pedígrafo. A análise da impressão plantar permite verificar o tipo de pé (Fuente, 2003).
Os parâmetros que estudados para avaliar as impressões plantares foram a largura metatársica (equivalente à distância entre a primeira e a quinta cabeça metatársica); do istmo (que constitui a ligação do antepé com o retropé), e que geralmente mede cerca de um terço da largura do antepé; e a largura do calcanhar, que geralmente atribuir-se 1/2 a 2/3 da largura metatársica. De acordo com Fuente (2003), se a largura do istmo for superior a 1/3 da largura do antepé, pode dizer-se que estamos perante um pé plano, se, pelo contrário, a largura do istmo for inferior a 1/3 da largura do antepé, existe tendência para um pé cavo.
Para a avaliação da morfologia do pé também foi utilizado como instrumento de recolha de dados o podoscópio, que é um dispositivo que permite a visualização directa da impressão plantar, mediante a reflexão de uma luz fluorescente num sistema de espelhos, no entanto não permite o arquivamento das imagens (Fuente, 2003).
De seguida, foi avaliada a posição dos joelhos no plano frontal, com o indivíduo em decúbito dorsal com a pelve no plano frontal, segundo o procedimento referido por Valmssy (1996), ou seja através da visualização da aproximação dos joelhos e do afastamento dos maléolos tibiais. Assim, quando os joelhos se juntam e os maléolos se separam estamos perante um genum valgum. Contrariamente, quando os pés se tocam e os joelhos se separam, existe um genu varum (Valmassy, 1996).
Por fim, procedeu-se à avaliação do comprimento dos membros inferiores, tendo para isso utilizado uma fita métrica. A medição foi efectuada com os indivíduos em decúbito dorsal, com a anca estabilizada no plano frontal, tendo como referências a espinha ilíaca antero-superior e o maléolo tibial.

2.6 Análise estatística

Para tratar dos dados estatísticos o programa utilizado é o SPSS versão 16.0, uma vez que este programa é o eleito pelos cientistas e é o mais utilizado nas ciências sociais e humanas (Maroco, 2003).
No decorrer do tratamento de dados foram utilizados os seguintes procedimentos estatísticos de acordo com as indicações apresentadas por (Palland, 2001): Análise de frequências, Teste de Normalidade e Qui-quadrado para amostras independentes.
Para testar a normalidade, o teste mais recorrente é o teste de Kolmogorov-Smirnov. Este serve para decidir se a distribuição da variável estudo, numa determinada amostra, provém de uma população com uma distribuição específica. Neste caso, contudo, há apenas a preocupação em verificar se a distribuição da variável é ou não normal (Maroco, 2003).
Quando a distribuição não é considerada normal, torna-se necessário o recurso a métodos não paramétricos, tais como o teste de X2. O teste de Qui-quadrado para amostras independentes é usado para determinar se duas variáveis têm relação entre si. Ele compara a frequência de casos encontrados em variadas categorias de uma variável com diferentes categorias de outra variável. Este teste enquadra-se em técnicas de estatística não paramétricas, uma vez que é ideal no tratamento de dados avaliados em escalas nominais (categorias) e ordinais (posições).



3 Resultados

Neste capítulo vão ser apresentados os resultados obtidos no presente trabalho. O objectivo foi verificar as lesões mais frequentes do membro inferior ocorridas em ciclistas profissionais. Para tal, foram analisadas diversas variáveis que vão ser apresentadas a seguir de uma forma simples e sucinta.

3.1 Dados da amostra

Neste estudo participaram 53 ciclistas profissionais de diversas equipas nacionais.
A média de idades rondou os 28 anos, com o atleta mais novo a apresentar uma idade de 23 anos e o mais velho de 34 anos. A altura média foi de 1.74 metros, apresentando o atleta mais baixo uma altura de 1.67 metros e o mais alto 1.85 metros. Relativamente ao peso, a média apresentada foi de 68 kg, com o atleta mais leve a pesar 58 kg e o mais pesado 80 kg.
Relativamente ao número de anos de prática do ciclismo, o gráfico abaixo apresentado indica que a média foi de 7,13 anos de prática com os anos a variarem entre 3 e 12 anos de prática desportiva.
 Quanto ao número de horas de treino realizadas pelos ciclistas diariamente, constata-se que somente dois atletas realizam um treino de 2 horas. Vinte e sete atletas treinam em média 3 horas, dezoito atletas treinam 4 horas e apenas seis atletas num total de 53 treinam 5 ou mais horas.
 Do universo de cinquenta e três atletas, trinta e três descansam 12 horas ou menos e vinte descansam entre 12 e 20 horas entre os treinos.
 Quanto á realização do aquecimento antes de cada treino, a esmagadora maioria realiza sempre, com um total de 42 atletas, 8 responderam que fazem-no quase sempre e apenas 3 responderam que nem sempre o fazem.
No ciclismo existem variações no tipo de treino consoante o terreno onde é praticado e o tipo de bicicleta que é usada. Nesta questão, 12 atletas responderam que fazem especificamente treino de montanha, 7 afirmaram que realizam treino de estrada, somente 1 respondeu que realiza treino específico de conta-relógio e na sua maioria responderam que realizam um treino misto, num total de 33 atletas.
 Relativamente ao ajuste do selim, nesta questão a totalidade dos inquiridos respondeu afirmativamente. Os 53 atletas ajustam o selim sempre que mudam de bicicleta.
 Dos 53 inquiridos, 37.7% já tiveram lesões ao longo da carreira e 62.3% afirmaram que nunca tiveram uma lesão desde o inicio de prática da modalidade.
 Quanto às lesões descritas como específicas do ciclismo, 92.5% dos inquiridos responderam que nunca tiveram lombalgia e só 7.5% dos atletas referiram quadros anteriores da lesão em causa.
Relativamente às lesões descritas como estiramentos ou contracturas da zona posterior da coxa e quadriceps, apenas 3.8% dos atletas responderam afirmativamente, os restantes 96.2% nunca sofreram da referida patologia.
 Quanto às lesões a nível do joelho, 34% dos atletas responderam já tiveram este tipo de lesões, enquanto 66% nunca padeceram de patologias nesta região anatómica.








  











As tabelas abaixo descritas indicam que apenas 5.7% dos inquiridos apresentaram numa altura da sua carreira fasceíte plantar e que 3.8% apresentaram metatarsalgias.
 Relativamente à medição do comprimento dos membros inferiores, verificou-se que 26.4% dos atletas apresentam uma assimetria/dismetria dos membros inferiores e os restantes73.6% apresentam igual longitude de membros.
 Verificou-se igualmente que 58.5% apresentavam genu varo, 18.9% genu valgo e 22.6% não tinham qualquer alteração fémuro-tibial.
 Quanto à morfologia estrutural do pé, verificou-se que 50.7% dos indivíduos apresentaram pé cavo, 20.8% revelaram pé plano e 24.5% apresentaram pé normal.
Relacionando a variável idade com o aparecimento de lesões verificou-se, tal como se pode observar na tabela abaixo, que a média de idades dos atletas que apresentaram lesões foi superior à média de idades dos atletas que não apresentaram lesões. Sendo que, os indivíduos com história de lesão apresentaram uma média de idades de 29.60 anos e os que não sofreram qualquer tipo de lesão uma média de idades de 26.42 anos.
 Comparando o número de anos de prática desportiva com a presença de lesões, verificou-se que os que apresentaram lesões tinham uma média superior de anos de prática desportiva comparativamente aos que não apresentaram lesões. A média de anos de prática desportiva dos que apresentaram lesões foi de 8.40 anos e dos que não apresentaram lesões foi de 6.36 anos.
Relativamente à relação entre o número de horas de treino diário e o aparecimento de lesões, verificou-se que os indivíduos que treinaram duas horas não apresentaram lesão. Dos que treinaram três horas 29.6% sofreram lesões. Os que treinaram quatro horas apresentaram uma percentagem de lesões de 44.4% e os que treinaram cinco ou mais horas revelaram 66.7% de lesões.
  Na tabela que se segue está representada a relação entre a cadência utilizada e o aparecimento de lesões, verificando-se que os que utilizam uma cadência de pedalada leve têm uma percentagem de lesão de 23.1%. Os que utilizam uma cadência moderada têm uma percentagem de lesão de 32.1% e os que normalmente usam uma cadência pesada têm uma percentagem de lesões de 66.7%.
 Comparando a avaliação de assimetrias/dismetrias do membro inferior com o aparecimento de lombalgias, a tabela abaixo indica que os atletas que apresentam diferentes comprimentos de membros têm uma percentagem de lesão lombálgica de 28.6% e os que têm um comprimento de membros semelhante têm uma percentagem de 0% de lesão lombálgica.


  
















 




  











Quanto à relação entre as lesões do joelho e as alterações femuro-tibiais, 38.7% dos indivíduos que apresentaram lesão no joelho têm um genu varo, 20% têm genu valgo e 33.3% não possuem alterações femuro-tibiais.
Tabela 20: Alterações fémuro-tibiais e lesão do joelho

4 Discussão

O ciclismo é, entre todos os desportos, um dos que menos causa lesões. Uma das razões é por não ser um desporto onde exista contacto entre atletas, o que reduz bastante a probabilidade de aparecimento de lesões. No entanto, é um desporto que não está imune a elas (Chow TK, Kronisch, 2002).
As causas para o aparecimento de lesões no ciclismo podem ser diversas e estão muitas vezes relacionadas com factores como, uma técnica de pedalada deficiente, excesso de treino, uso de desmultiplicações pesadas demais combinadas com cadencias baixas, dimensões incorrectas da bicicleta, aquecimento insuficiente, alterações abruptas tanto no volume quanto na intensidade de treino e falta de força e flexibilidade (Baker, 1998).
Assim, este estudo teve como principal objectivo do estudo analisar a frequência de lesões no ciclismo profissional de estrada. Como objectivos secundários pretendeu-se verificar quais os tipos de lesões mais frequentes neste desporto, qual a sua etiologia e qual a morfologia do membro inferior do ciclista. Pretendeu-se também verificar a possível relação de algumas variáveis com a ocorrência das referidas lesões ou deformidades, tais como, a idade dos ciclistas, anos de prática, número e horas de treino, tipo de treino, alterações morfológicas ou funcionais do membro inferior.
Os resultados obtidos foram diversos. Após uma análise detalhada da distribuição da idade dos indivíduos da amostra, verificou-se que se que enquadra na média de idades encontrada na maioria dos estudos realizados, bem como a altura e o peso (Burke, Pruitt, 2003; Carmo JC, Nascimento FAO, Costa JC, Rocha AF, 2002; Chow TK, Kronisch RL, 2002; Faria, I.E.& Cavanagh, 1978; Mellion MB, 1991; W. Semak, R.R. Neptune, 1999).
Segundo Baker (1998) a causa mais comum de lesões musculares e articulares são os métodos inadequados de treino. Os valores obtidos nas variáveis de horas de treino diário, descanso entre cada treino, realização de aquecimento antes de cada treino e no ajuste do selim sempre que se muda de bicicleta, não vão de encontro ao que o autor refere visto que os atletas realizaram treinos diários não muito longos em termos de horas, 100% dos atletas analisados ajustaram sempre o selim da bicicleta, o tempo de descanso é o necessário para a recuperação e uma grande percentagem (79.2%) efectua sempre aquecimento antes do inicio do treino. Estes resultados revelam que os profissionais desta modalidade estão cada vez mais informados acerca dos erros que não podem cometer, o que é revelador do grau de profissionalismo que apresentam.
Baker (1998) refere que somente as fibras não lesadas e nutridas funcionam adequadamente, os períodos de exercícios intensivos, com pequenos intervalos de repouso, acabam por exigir um trabalho comparável por parte de uma menor quantidade de fibras saudáveis, aumentando a probabilidade de lesão. Consequentemente, um intervalo de no mínimo dois dias entre treinos intensivos ou a alternância de treinos que sobrecarregam partes diferentes do corpo podem ajudar a evitar a ocorrência de lesões crónicas. A maioria dos programas de treino alterna um período de treino intensivo num dia com repouso ou um treino mais leve no dia seguinte. Ora, para este parâmetro analisou-se o tipo de treino que os atletas realizam e o resultado foi que 62% dos atletas realizaram um tipo de treino misto, que engloba precisamente o que o autor refere, treinos intensos alternados com treinos mais leves e por vezes com repouso. No entanto ainda uma percentagem significativa (38%) continua a praticar treinos bastante específicos, o que pode ser prejudicial para a ocorrência de lesões.
Em relação às lesões no ciclismo, os resultados obtidos foram que 37.7% em algum momento da sua carreira já tiveram lesões e 62.3% nunca apresentaram qualquer tipo de lesão. Este facto vai de encontro ao que Chow TK e Kronisch (2002) dizem, uma vez que eles referem que o ciclismo é, entre todos os desportos, um dos que menos causa lesões. E tendo em conta que um profissional em média pratica ciclismo ao mais alto nível durante 12 anos, uma percentagem obtida de ausência de lesões de 62.3% é de salientar.
Em relação às lesões lombalgicas e aos estiramentos e contracturas da face posterior da coxa e quadriceps não foram encontrados estudos que sustentassem os valores obtidos, mas é de referir que apenas 7.5% contraíram lombalgia em algum momento da sua carreira e 3.8% já tiveram quadros estiramentos e contracturas.
Mellion (1991), refere ainda que as lesões no pé e tornozelo são menos frequentes, o que vai de encontro ao que foi verificado neste estudo, pois apenas 5.7% dos atletas já tiveram fasceíte plantar e numa percentagem ainda inferior 3.8% já tiveram metatarsalgias.
Em relação às lesões no joelho o resultado obtido foi que 34% dos atletas presentes no estudo já apresentaram lesão nesta área anatómica e 66% nunca tiveram lesão nesta região. Este resultado obtido vai de encontro ao verificado por Mellion (1991) que aponta que a articulação do joelho tem-se destacado como a articulação que tem mais apresentado problemas entre os ciclistas, comparativamente a outras áreas do corpo.
Alguns autores sugerem que quando se pedala com o joelho “muito para fora”, a carga fica distribuída de maneira desigual na articulação, sobrecarregando apenas umas das faces da rótula, o que provoca lesões (Burke e Pruitt, 2003). Para suportar esta afirmação foi analisado um parâmetro muito importante que é determinar que tipo de alterações fémuro - tibiais apresenta o atleta. Verificou-se que 58.5% dos atletas apresentaram genu varo, apenas 18.9% apresentaram genu valgo e 22.6% não têm alterações fémuro–tibiais. A grande maioria dos atletas apresentaram genu varo, o que indica que estes atletas estão mais propensos a contrair lesão principalmente ao nível do joelho.
Em relação à presença de dismetrias verificou-se que 73.6% não apresentaram dismetrias e 26.4% apresentaram diferenças de comprimento dos membros inferiores. Em relação a este parâmetro avaliado não foi encontrado um estudo que fosse de encontro a estes valores e nem que os corrobora-se. No entanto, na bibliografia consultada, Mellion (1991) refere que as anormalidades estruturais tornam o corpo susceptível a lesões desportivas por causa do esforço desigual de várias partes do corpo. Por exemplo, quando as pernas apresentam comprimentos diferentes, uma maior força é exercida sobre o quadril e o joelho da perna mais longa, provocando lesão.
Para a morfologia estrutural do pé não foi encontrada bibliografia que pudesse dar suporte aos resultados obtidos, no entanto foi verificado que 54.7% dos atletas tinham pé cavo, apenas 20.8% tinha pé plano e 24.5% apresentavam um pé normal, no entanto alguns autores referem que o pé dos desportistas é tendencialmente um pé cavo (Fuente, 2009). Neste caso específico do ciclismo, esta característica poderá estar associada não só ao esforço realizado pelos membros inferiores, mas também pelo próprio posicionamento do pé no pedal.
Ao relacionar a variável idade com o aparecimento de lesões, verificou-se que a média de idades dos atletas que apresentaram lesões foi superior á média de idades dos atletas que não apresentaram lesões. Sendo que apresentaram valores significativos, visto que os primeiros apresentaram uma média de idades de 29.60 anos e os segundos uma média de idades de 26.42 anos. Este facto vai de encontro ao que Baker (1998) diz, pois este refere que a idade é um factor desencadeante de lesão.
Comparou-se o número de anos de prática desportiva com a presença de lesões e verificou-se que os que apresentaram lesões tinham uma média superior de anos de prática desportiva, comparativamente aos que não apresentaram lesões. Também estes valores foram significativos pois a média de anos de prática desportiva dos que apresentaram lesões foi de 8.40 anos e a média dos que não apresentaram lesões foi de 6.36 anos, indo de encontro ao referido por Baker (1998).
Relacionando o número de horas de treino diário com o aparecimento de lesões, verificou-se que os que treinavam duas horas não apresentaram lesão. Dos que treinavam três horas 29.6% tinham lesão. Os que treinavam quatro horas apresentaram uma percentagem de lesões de 44.4% e os que treinavam cinco ou mais horas tinham uma percentagem de 66.7% de lesões, verificando-se diferenças estatisticamente significativas. Este facto vai de encontro ao que Baker (1998) refere, sendo o tempo de prática desportiva um factor desencadeante de lesão.
No que se refere à relação entre a cadência utilizada e o aparecimento de lesões, verificou-se que os que utilizam uma cadência de pedalada leve têm uma percentagem inferior de lesão na ordem dos 23.1%. Os que utilizam uma cadência moderada têm uma percentagem de lesão de 32.1% e os que normalmente usam uma cadência pesada têm uma percentagem de lesões de 66.7%. Estes valores são significativos pois são reveladores de que a utilização de uma cadência pesada pode contribuir mais facilmente para o aparecimento de lesões, o que é corroborado por Baker (1998).
Por último comparou-se a avaliação de assimetrias/dismetrias do membro inferior com o aparecimento de lombalgias, os atletas que apresentaram diferentes comprimentos de membros têm uma percentagem de lesão lombálgica de 28.6% e os que não apresentaram assimetria/dismetria têm uma percentagem de 0% de lesão lombálgica. Estes factos são significativos e reveladores, segundo Baker (1998), uma diferença de comprimento de membros pode contribuir para o aparecimento de lesões lombares.



5 Conclusão

O ciclismo é uma modalidade muito antiga. No entanto os estudos científicos desenvolvidos acerca desta modalidade ainda são escassos. Esse facto motivou o meu interesse para desenvolver ainda mais este desporto.
No ciclismo, os membros inferiores assumem uma importância fundamental para a sua execução técnica e, como tal, os ciclistas ficam expostos a um grande número de lesões. E foi com esse intuito de verificar quais as lesões e os mecanismos lesivos que este trabalho se desenvolveu.
Há algum tempo atrás pensava-se que os aspectos lesivos da prática do ciclismo estavam directamente relacionados com o desconhecimento das condutas preventivas por parte dos ciclistas. No entanto, neste estudo não se verificou esse facto, muito pelo contrário. Os profissionais desta modalidade, hoje em dia, estão bem informados das condutas que devem ter para, em primeiro lugar não contraírem lesões e, por outro, para obterem cada vez mais um melhor rendimento desportivo. Também se verificou que, ao contrário do que se pensava, a principal causa de lesão não são os métodos inadequados de treino, mas sim os mecanismos fisiológicos e anatómicos de cada atleta que causam um maior número de lesões.
Concluiu-se igualmente que a maior percentagem de lesões ocorrem ao nível da articulação do joelho e para esse facto contribui a diferente longitude dos membros e também um genu varo entre o fémur e a tíbia.
Um outro factor para a ocorrência de lesões é facto de se utilizar uma cadência pesada de pedalada.
A nível do pé conclui-se que não é uma zona muito afectada com lesões, mas é descrita por parte dos ciclistas como uma zona que causa desconforto durante a prática desportiva.
Em suma espero que tenha contribuído para uma melhor compreensão acerca deste tema. O ciclismo carece de estudos científicos e é meu desejo que com este estudo se tenha aberto um precedente para que mais pessoas se possam debruçar e estudar esta modalidade que ainda tem tanto para descobrir.



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